O comportamento da curva de juros no Brasil, com expectativas de alta de juros no segundo semestre e cortes no início de 2025, assemelha-se ao transtorno bipolar, com alternâncias abruptas entre euforia e depressão. Esta situação reflete a instabilidade na política econômica brasileira, tanto fiscal quanto monetária.
No primeiro semestre, a percepção sobre a política econômica brasileira piorou, com um ajuste fiscal limitado à receita e desconfiança crescente em relação ao Banco Central (BC) e à sua capacidade de manter a meta de inflação. Isso causou uma desvalorização do real e uma pressão adicional na taxa de câmbio, exacerbada pela alta nas taxas de juros dos EUA e a queda nos preços das commodities, como o minério de ferro.
A curva de juros respondeu com nervosismo quando o dólar ultrapassou R$ 5,70, o que levou a um ajuste de políticas. O governo, pressionado, mudou de estratégia, implementando medidas fiscais mais rígidas e mostrando um compromisso renovado com a responsabilidade fiscal. No âmbito monetário, o BC também ajustou sua postura, buscando decisões consensuais e mostrando um compromisso renovado com a meta de inflação.
Nos EUA, a inflação começou a ceder, com uma desaceleração nos custos habitacionais e deflação em bens, enquanto a preocupação se desloca para o mercado de trabalho. Isso sugere que o Federal Reserve pode adotar uma postura mais dovish, o que pode influenciar o BC a reconsiderar suas políticas.
Apesar disso, a alta de juros proposta para setembro parece desnecessária e potencialmente prejudicial. O argumento principal para a alta seria recuperar credibilidade e reancorar as expectativas, mas a questão fundamental é que a falta de credibilidade fiscal é mais crítica do que a monetária. Aumentar a Selic não resolveria os problemas fiscais e poderia agravar a dinâmica da dívida, tornando a política monetária ainda mais restritiva.
Atualmente, a taxa de juros real de um ano está em torno de 7,5%, significativamente acima da taxa neutra do BC. Esse nível já reflete uma política monetária bastante apertada. Além disso, a volatilidade na curva de juros é mais benéfica para operadores de mercado do que para a economia real, que prefere estabilidade e previsibilidade.
O BC já testou os limites da política monetária, com uma Selic reduzida para 2% e uma taxa real negativa, seguida por um aperto agressivo de 1.175 pontos-base. Em vez de aumentar a Selic, o BC pode optar por manter a taxa atual e esperar os efeitos das políticas monetárias internacionais e das mudanças na economia doméstica antes de tomar novas decisões.
Rafael Ihara é economista pelo Insper com mestrado pela PUC-Rio e economista-chefe da Meraki Capital.
Fonte:
Opinião: Por que o BC Não Deveria Aumentar a Selic www.braziljournal.com @2024. Disponível em: https://braziljournal.com/opiniao-por-que-o-bc-nao-deveria-aumentar-a-selic/# Acesso em: 06 set 2024.