O cenário atual do mercado financeiro brasileiro revela um pessimismo extremo, refletido em taxas de juros reais que se aproximam dos níveis observados em crises passadas, como a de 2014-2015 e o período pós-pandemia. Entretanto, a situação fiscal e econômica do Brasil hoje é substancialmente diferente e mais resiliente, segundo análise de Sandro Mazerino Sobral. Ele defende que o mercado está exagerando ao precificar o risco atual em patamares de crises anteriores.
O Problema Atual
A questão central está na alta taxa de juros reais, que, embora favoreça a estabilidade fiscal no curto prazo, compromete o crescimento econômico de longo prazo. O arcabouço fiscal, ao priorizar o aumento da arrecadação sem reduzir estruturalmente as despesas públicas, mantém o consumo aquecido, mas desencoraja investimentos. Essa dinâmica eleva as taxas de juros de equilíbrio, dificultando a sustentabilidade da dívida pública em um país com endividamento relativamente alto.
Comparação com Crises Passadas
Sobral argumenta que, diferentemente de 2014-2015, quando o Brasil enfrentava alavancagem elevada em estatais, perda de grau de investimento e incerteza fiscal, ou do ciclo 2021-2022, marcado por inflação importada e desvalorização cambial, o contexto atual não justifica um prêmio de risco tão elevado. Hoje, o país possui um Banco Central independente, comprometido com uma meta de inflação de 3%, e mecanismos institucionais mais robustos.
O Papel da Sociedade e do Governo
O analista destaca a evolução da sociedade brasileira nas últimas três décadas, desde o Plano Real, com maior pressão por eficiência no gasto público, empreendedorismo e limites ao tamanho do Estado. Ele sugere que, embora o arcabouço fiscal atual necessite de ajustes, a rota pode ser corrigida. O governo, historicamente, tende a reagir em momentos de dificuldade, e o momento atual exige ação decisiva.
O Erro das Expectativas
Para Sobral, o mercado local está subestimando a capacidade de ajuste do Brasil e, em muitos casos, tomando decisões baseadas em vieses emocionais, como discursos pessimistas em ambientes internacionais. Ele vê sinais de que investidores estrangeiros mantêm uma visão mais pragmática sobre o potencial do país, diferentemente do clima exageradamente negativo propagado por parte do mercado doméstico.
Por que as Expectativas Devem Mudar
O foco nas taxas de juros reais, e não no câmbio, como principal preocupação econômica, é um sinal de maturidade. Além disso, a equipe econômica tem discutido microrreformas que podem complementar o ajuste fiscal. Sobral acredita que é hora de o mercado ajustar suas expectativas e precificar melhor as condições reais do país, considerando não apenas os desafios, mas também as oportunidades e a evolução institucional.
Conclusão
Embora o Brasil enfrente desafios fiscais e econômicos, o pessimismo exagerado do mercado não reflete a realidade atual. Sobral propõe um olhar mais equilibrado, reconhecendo tanto os problemas quanto os avanços, para ajustar as expectativas e explorar o potencial de crescimento sustentável. O momento exige reação, tanto do governo quanto dos agentes econômicos, para virar o jogo das expectativas e construir um futuro mais estável e próspero.
Fonte:
OPINIÃO. É hora de virar o jogo das expectativas www.braziljournal.com @2024. Disponível em: https://braziljournal.com/opiniao-e-hora-de-virar-o-jogo-das-expectativas Acesso em: 05 dez 2024.